Como forma de contribuir um pouco socialmente falando com meus alunos e interessados, seguidores ou não estou retomando as postagens nesse local.
Se você quiser seguir lembra de apenas fazer o login via gmail e pronto, cada vez que eu postar algo, você recebe.
Eu já mencionei em muitos momentos de aula para meus queridos e amados alunos que no Canal do Ensino é possível acessar à muitas ferramentas que poderão ser úteis em diferentes momentos e contextos de seu cotidiano e interesse.
Hoje vou postar sobre as 13 redações que tiraram nota máxima no Enem.
Volto a frizar que a origem dessa postagem foi buscada no "Canal do Ensino".
"https://canaldoensino.com.br/blog/confira-13-redacoes-que-tiraram-nota-maxima-no-enem"
1 – Larissa Cristine Ferreira, 20 anos
“Orgulho Machadiano
Brás Cubas, o defunto-autor de Machado
de Assis, diz em suas “Memórias Póstumas” que não teve filhos e não
transmitiu a nenhuma criatura o legado da nossa miséria. Talvez hoje ele
percebesse acertada sua decisão: a postura de muitos brasileiros frente
a intolerância religiosa é uma das faces mais perversas de uma
sociedade em desenvolvimento. Com isso, surge a problemática do
preconceito religioso que persiste intrinsecamente ligado à realidade do
país, seja pela insuficiência de leis, seja pela lenta mudança de
mentalidade social.
É indubitável que a questão
constitucional e sua aplicação estejam entre as causas do problema.
Conforme Aristóteles, a poética deve ser utilizada de modo que, por meio
da justiça, o equilíbrio seja alcançado na sociedade. De maneira
análoga, é possível perceber que, no Brasil, a perseguição religiosa
rompe essa harmonia; haja vista que, embora esteja previsto na
Constituição o princípio da isonomia, no qual todos devem ser tratados
igualmente, muitos cidadãos se utilizam da inferioridade religiosa para
externar ofensas e excluir socialmente pessoas de religiões diferentes.
Segundo pesquisas, a religião
afro-brasileira é a principal vítima de discriminação, destacando-se o
preconceito religioso como o principal impulsionador do problema. De
acordo com Durkheim, o fato social é a maneira coletiva de pensar. Ao
seguir essa linha de pensamento, observa-se que a preparação do
preconceito religioso se encaixa na teoria do sociólogo, uma vez que se
uma criança vive em uma família com esse comportamento, tende a adotá-lo
também por conta da vivência em grupo. Assim, a continuação do
pensamento da inferioridade religiosa, transmitido de geração a geração,
funciona como base forte dessa forma de preconceito, perpetuando o
problema no Brasil.
Infere-se, portanto, que a intolerância
religiosa é um mal para a sociedade brasileira. Sendo assim, cabe ao
Governo Federal construir delegacias especializadas em crimes de ódio
contra religião, a fim de atenuar a prática do preconceito na sociedade,
além de aumentar a pena para quem o praticar. Ainda cabe à escola criar
palestras sobre as religiões e suas histórias, visando informar
crianças e jovens sobre as diferenças religiosas no país, diminuindo,
assim, o preconceito religioso. Ademais, a sociedade deve se mobilizar
em redes sociais, com o intuito de conscientizar a população sobre os
males da intolerância religiosa. Assim, poder-se-á transformar o Brasil
em um país desenvolvido socialmente, e criar um legado de que Brás Cubas
pudesse se orgulhar.”
2 – Vanessa Soares Mendes, 26 anos, Rio de Janeiro (RJ)
“A locomotiva de Marx
De acordo com Albert Camus, escritor
argelino do século XX, se houver falhas na conciliação entre justiça e
liberdade, haverá intempéries de amplo espectro. Nesse sentido, a
intolerância religiosa no Brasil fere não somente preceitos éticos e
morais, mas também constitucionais estabelecidos pela Carta Magna do
país. Dessa forma, observa-se que a liberdade de crença nacional reflete
um cenário desafiador seja a partir de reflexo histórico, seja pelo
descumprimento de cláusulas pétreas.
Mormente, ao avaliar a intolerância
religiosa por um prisma estritamente histórico, nota-se que fenômenos
decorrentes da formação nacional ainda perpetuam na atualidade. Segundo
Albert Einstein, cientista contemporâneo, é mais fácil desintegrar um
átomo do que um preconceito enraizado. Sob tal ótica, é indubitável que
inúmeras ojerizas religiosas, presentes no Brasil hodierno possuem
ligação direta com o passado, haja vista os dogmas católicos amplamente
difundidos no Brasil colônia do século XVI. Assim, criou-se ao longo da
historiografia, mitos e concepções deturpadas de religiões contrárias ao
catolicismo, religião oficial da época, instaurou-se, por conseguinte, o
medo e as intolerâncias ao diferente. Desse modo, com intuito de
atenuar atos contrários a prática da religiosidade individual, cabe ao
governo, na figura do Ministério da Educação, a implementação na grade
curricular a disciplina de teorias religiosas, mitigando defeito
histórico.
Além disso, cabe ressaltar que a
intolerância às crenças burla preceitos constitucionais. Nessa
perspectiva, a Constituição Brasileira promulgada em 1988, após duas
décadas da Ditadura Militar, transformou a visão dos cidadãos perante
seus direitos e deveres. Contudo, quase 20 anos depois de sua
divulgação, a liberdade de diversos indivíduos continua impraticável. À
vista de tal preceito, a intolerância religiosa configura-se uma chaga
social que demanda imediata resolução, pois fere a livre expressão
individual. Dessa maneira, cabe ao Estado, como gestor dos interesses
coletivos, a implementação de delegacias especializadas de combate ao
sentimento desrespeitoso e, até mesmo violento, às crenças religiosas.
Destarte, depreende-se que raízes
históricas potencializam atos inconstitucionais no Brasil. Torna-se
imperativo que o Estado, na figura do Poder Legislativo, desenvolva leis
de tipificação como crime hediondo aos atos violentos e atentados ao
culto religioso. Ademais, urge que a mídia, por meio de novelas e
seriados, transmita e propague a diversidade religiosa, com propósito de
elucidar e desmistificar receios populacionais. Outrossim, a escola
deve realizar debates periódicos com líderes religiosos, a fim de
instruir, imparcialmente, seus alunos acerca da variabilidade e
tolerância religiosa. Apenas sob tal perspectiva, poder-se-á respeitar a
liberdade e combater a intolerância de crença no Brasil, pois como
proferido por Karl Marx: as inquietudes são a locomotiva da nação.”
3 – Helário Azevedo e Silva Neto, de 17 anos, Ceará (CE)
“O Período Colonial do Brasil, ao longo
dos séculos XVI e XIX, foi marcado pela tentativa de converter os índios
ao catolicismo, em função do pensamento português de soberania. Embora
date de séculos atrás, a intolerância religiosa no país, em pleno século
XXI, sugere as memas conotações de sua origem: imposições de dogmas e
violência. No entanto, a lenta mudança de mentalidade social e o receio
de denunciar dificultam a resolução dessa problemática, o que configura
um grave problema social.
Nesse contexto, é importante salientar
que, segundo Sócrates, os erros são consequência da ignorância humana,
logo, é válido analisar que o desconhecimento acerca de crenças
diferentes influi decisivamente em comportamentos inadequados contra
pessoas que seguem linhas de pensamento opostas. À vista disso, é
interessante ressaltar que, em algumas religiões, o contato com
perspectivas de outras crenças não é permitido. Ainda assim, conhecer a
lei é fundamental para compreender o direito à liberdade de dogmas e,
portanto, para respeitar as visões díspares.
Além disso, é cabível enfatizar que, de
acordo com Paulo Freire, um seu livro “Pedagogia do Oprimido”, é
necessário buscar uma “cultura de paz”. De maneira análoga, muitos
religiosos, a fim de evitar conflitos, hesitam em denunciar casos de
intolerância, sobretudo quando envolvem violência. Entretanto, omitir
crimes, ao contrário do que se pensa, significa colaborar com a
insistência da discriminação, o que funciona como um forte empecilho
para resolução dessa problemática.
Sendo assim, é indispensável a adoção de
medidas capazes de assegurar o respeito religioso e o exercício de
denúncia. Posto isso, cabe ao Ministério da Educação, em parceria com o
Ministério da Justiça, implementar aos livros didáticos de História um
plano de aula que relacione a aculturação dos índios com a intolerância
religiosa contemporânea, com o fito de despertar o senso crítico nos
alunos; e além disso, promover palestras ministradas por defensores
públicos acerca da liberdade de expressão garantida pela lei para que o
respeito às diferentes posições seja conquistado. Ademais, a Polícia
Civil deve criar uma ouvidoria anônima, tal como uma delegacia
especializada, de modo a incentivar denúncias em prol do combate à
problemática.”
4 – Laryssa Cavalcanti, de 17 anos – Maceió (AL)
“O ser humano é social: necessita viver
em comunidade e estabelecer relações interpessoais. Porém, embora
intitulado, sob a perspectiva aristotélica, político e naturalmente
sociável, inúmeras de suas antiéticas práticas corroboram o contrário.
No que tange à questão religiosa no país, em contraposição à laicização
do Estado, vigora a intolerância no Brasil, a qual é resultado da
consonância de um governo inobservante à Constituição Federal e uma
nação alienada ao extremo.
Não obstante, apesar de a formação
brasileira ser oriunda da associação de díspares crenças, o que é fruto
da colonização, atitudes preconceituosas acarretam a incrédula
continuidade de constantes ataques a religiões, principalmente de matriz
africana. Diante disso, a união entre uma pátria cujo obsoleto ideário
ainda prega a supremacia do cristianismo ortodoxo e um sistema
educacional em que o estudo acerca das disparidades religiosas é escasso
corrobora a cristalização do ilegítimo desrespeito à religiosidade no
país.
Sob essa conjectura, a tese marxista
disserta acerca da inescrupulosa atuação do Estado, que assiste apenas a
classe dominante. Dessa forma, alienados pelo capitalismo selvagem e
pelos subvertidos valores líquidos da atualidade, os governantes
negligenciam a necessidade fecunda de mudança dessa distópica realidade
envolta na intolerância religiosa no país. Assim, as nefastas políticas
públicas que visem a coibir o vilipêndio à crença – ou descrença, no
caso do ateísmo – alheia, como o estímulo às denúncias, por exemplo,
fomentam a permanência dessas incoerentes práticas no Brasil. Porém,
embora caótica, essa situação é mutável.
Convém, portanto, que, primordialmente, a
sociedade civil organizada exija do Estado, por meio de protestos, a
observância da questão religiosa no país. Desse modo, cabe ao Ministério
da Educação a criação de um programa escolar nacional que vise a
contemplar as diferenças religiosas e o respeito a elas, o que deve
ocorrer mediante o fornecimento de palestras e peças teatrais que
abordem essa temática. Paralelamente, ONGs devem corroborar esse
processo a partir da atuação em comunidades com o fito de distribuir
cartilhas que informem acerca das alternativas de denúncia dessas
desumanas práticas, além de sensibilizar a pátria para a luta em prol da
tolerância religiosa.”
5 – Vinícius Oliveira de Lima, de 26 anos – Duque de Caxias (RJ)
“Tolerância na prática
A Constituição Federal de 1988 – norma
de maior hierarquia no sistema jurídico brasileiro – assegura a todos a
liberdade de crença. Entretanto, os frequentes casos de intolerância
religiosa mostram que os indivíduos ainda não experimentam esse direito
na prática. Com efeito, um diálogo entre sociedade e Estado sobre os
caminhos para combater a intolerância religiosa é medida que se impõe.
Em primeiro plano, é necessário que a
sociedade não seja uma reprodução da casa colonial, como disserta
Gilberto Freyre em “Casa-Grande Senzala”. O autor ensina que a realidade
do Brasil até o século XIX estava compactada no interior da
casa-grande, cuja religião era católica, e as demais crenças – sobretudo
africanas – eram marginalizadas e se mantiveram vivas porque os negros
lhe deram aparência cristã, conhecida hoje por sincretismo religioso. No
entanto, não é razoável que ainda haja uma religião que subjugue as
outras, o que deve, pois, ser repudiado em um estado laico, a fim de que
se combata a intolerância de crença.
De outra parte, o sociólogo Zygmunt
Bauman defende, na obra “Modernidade Líquida”, que o individualismo é
uma das principais características – e o maior conflito – da
pós-modernidade, e, consequentemente, parcela da população tende a ser
incapaz de tolerar diferenças. Esse problema assume contornos
específicos no Brasil, onde, apesar do multiculturalismo, há quem exija
do outro a mesma postura religiosa e seja intolerante àqueles que dela
divergem. Nesse sentido, um caminho possível para combater a rejeição à
diversidade de crença é descontruir o principal problema da
pós-modernidade, segundo Zygmunt Bauman: o individualismo.
Urge, portanto, que indivíduos e
instituições públicas cooperem para mitigar a intolerância religiosa.
Cabe aos cidadãos repudiar a inferiorização das crenças e dos costumes
presentes no território brasileiro, por meio de debates nas mídias
sociais capazes de descontruir a prevalência de uma religião sobre as
demais. Ao Ministério Público, por sua vez, compete promover ações
judiciais pertinentes contra atitudes individualistas ofensivas à
diversidade de crença. Assim, observada a ação conjunta entre população e
poder público, alçará o país a verdadeira posição de Estado Democrático
de Direito.”
6 – Desirée Macarroni Abbade, de 18 anos – Rio de Janeiro (RJ)
“Profecia futurística
Em meados do século passado, o escritor
austríaco Stefan Zweig mudou-se para o Brasil devido à perseguição
nazista na Europa. Bem recebido e impressionado com o potencial da nova
casa, Zweig escreveu um livro cujo título é até hoje repetido: “Brasil,
país do futuro”. Entretanto, quando se observa a deficiência das medidas
na luta contra a intolerância religiosa no Brasil, percebe-se que a
profecia não saiu do papel. Nesse sentido, é preciso entender suas
verdadeiras causas para solucionar esse problema.
A princípio, é possível perceber que
essa circunstância deve-se a questões políticas-estruturais. Isso se
deve ao fato de que, a partir da impunidade em relação a atos que
manifestem discriminação religiosa, o seu combate é minimizado e
subaproveitado, já que não há interferência para mudar tal situação. Tal
conjuntura é ainda intensificada pela insuficiente laicidade do Estado,
uma vez que interfere em decisões políticas e sociais, como aprovação
de leis e exclusão social. Prova disso, é, infelizmente, a existência de
uma “bancada evangélica” no poder público brasileiro. Dessa forma,
atitudes agressivas e segregacionistas devido ao preconceito religioso
continuam a acontecer, pondo em xeque o direito de liberdade religiosa, o
que evidencia falhas nos elementos contra a intolerância religiosa
brasileira.
Outrossim, vale ressaltar que essa
situação é corroborada por fatores socioculturais. Durante a formação do
Estado brasileiro, a escravidão se fez presente em parte significativa
do processo; e com ela vieram as discriminações e intolerâncias
culturais, derivadas de ideologias como superioridade do homem branco e
darwinismo social. Lamentavelmente, tal perspectiva é vista até hoje no
território brasileiro. Bom exemplo disso são os índices que indicam que
os indivíduos seguidores e pertencentes das religiões afro-brasileiras
são os mais afetados. Dentro dessa lógica, nota-se que a dificuldade de
prevenção e combate ao desprezo e preconceito religioso mostra-se fruto
de heranças coloniais discriminatórias, as quais negligenciam tanto o
direito à vida quanto o direito de liberdade de expressão e religião.
Torna-se evidente, portanto, que os
caminhos para a luta contra a intolerância religiosa no Brasil
apresentam entraves que necessitam ser revertidos. Logo, é necessário
que o governo investigue casos de impunidade por meio de fiscalizações
no cumprimento de leis, abertura de mais canais de denúncia e postos
policiais. Além disso, é preciso que o poder público busque ser o mais
imparcial (religiosamente) possível, a partir de acordos pré-definidos
sobre o que deve, ou não, ser debatido na esfera política e disseminado
para a população. Ademais, as instituições de ensino, em parceria com a
mídia e ONGs, podem fomentar o pensamento crítico por intermédio de
pesquisas, projetos, trabalhos, debates e campanhas publicitárias
esclarecedoras. Com essas medidas, talvez, a profecia de Zweig torne-se
realidade no presente. “
7 – Samanta Gabriela Ferreira, 22 anos – Minas Gerais
“É notória a necessidade de ir de
encontro à intolerância religiosa no país vigente. Diante disso,
averigua-se, desde o período da colonização brasileira, um esforço
etnocêntrico de catequização dos indígenas nativos, como forma de
suprimirem suas crenças politeístas. Tal processo de aculturação e
subjugo acometeu também os negros africanos, durante todo contexto
histórico de escravidão, os quais foram, não raro, coisificados e
abominados por suas religiões e cultos. Por essa razão, faz-se
necessário pautar, no século XXI, o continuismo desse preconceito
religioso e dos desdobramentos dessa faceta caótica.
Segundo Immanuel Kant, em sua teoria do
Imperativo Categórico, os indivíduos deveriam ser tratados, não como
coisas que possuem valor, mas como pessoas que têm dignidade. Partindo
desse pressuposto, nota-se que a sociedade brasileira, decerto, tem ido
de encontro ao postulado filosófico, uma vez que há uma valoração
negativa às crenças de caráter não tradicionais, conforme a mentalidade
arcaica, advinda de uma herança histórico-cultural, como o Candomblé, o
espiritismo e o Islamismo. Tal realidade é ratificada ao se destacar a
agressão física e moral oriunda de um movimento promovido pelo Pastor
Lucinho, no Rio de Janeiro, o qual incitou um levante contra a
manifestação religiosa do Candomblé, segundo notícia da Folha de São
Paulo. Por essa razão, torna-se inegável a discriminação velada e, não
raro, explícita existente contra às diversas religiões no Brasil.
Como desdobramento dessa temática e da
carência de combate às díspares formas de intolerância religiosa, faz-se
relevante ressaltar a garantia de liberdade de culto estabelecida na
Constituição de 1988. Nesse sentido, de acordo com o Artigo 5º da Carta,
todos os indivíduos são iguais perante a lei, sem distinção de nenhuma
natureza, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
assegurar a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade e à
segurança. O que se nota, pois, na contemporaneidade, é a inoperância
desse direito constitucional e do cumprimento da laicidade estatal, haja
vista a mínima expressividade desse Estado, ainda em vigor, no que
tange à proteção do cidadão e à legitimidade da livre manifestação
religiosa no país.
Por tudo isso, faz-se necessária a
intervenção civil e estatal. O Estado, nesse contexto, carece de
fomentar práticas públicas, tal como a inserção na grade curricular do
conteúdo “Moral e Ética”, por meio do engajamento pedagógico às
disciplinas de Filosofia e Sociologia, a fim de que seja debatido a
temática do respeito às manifestações religiosas e que seja
ressignificado a mentalidade arcaica no que tange à tolerância às
religiões. É imperativo, ainda, que a população, em parceria com as
escolas, promovam eventos plurissignificativos e seminários, por meio de
campanhas de caráter popular, para que diversos líderes religiosos
orientem os civis, sem tabus e estereótipos, sobre suas crenças, de modo
a mitigar a intolerância religiosa de modo efetivo. Só assim, o país
tornar-se-á mais plural e justo.”
8 – Julia Mitie Oya, de 17 anos – São Paulo (SP)
“O Brasil é um país com uma das maiores
diversidades do mundo. Os colonizadores, escravos e imigrantes foram
essenciais na construção da identidade nacional, e também, trouxeram
consigo suas religiões. Porém, a diversidade religiosa que existe hoje
no país entra em conflito com a intolerância de grande parte da
população e, para combater esse preconceito, é necessário identificar
suas causas, que estão relacionadas à criação de estereótipos feita pela
mídia e à herança do pensamento desenvolvido ao longo da história
brasileira.
Primeiramente, é importante lembrar que o
ser humano é influenciado por tudo aquilo que ouve e vê. Então, quando
alguém assiste ou lê uma notícia sobre políticos da bancada evangélica
que são contra o aborto e repudiam homossexuais, esse alguém tende a
pensar que todos os seguidores dessa religião são da mesma maneira. Como
já disse Adorno, sociólogo que estudou a Indústria Cultural, a mídia
cria certos estereótipos que tiram a liberdade de pensamento dos
espectadores, forçando imagens, muitas vezes errôneas, em suas mentes.
Retomando o exemplo dos evangélicos, de tanto que são ridicularizados
por seus costumes e crenças na televisão e na internet e pelos jornais
destacarem a opinião de uma parte dos seguidores dessa religião,
criou-se um modelo do “típico evangélico”, que é ignorante,
preconceituoso e moralista, o que, infelizmente, foi generalizado para
todos os fiéis.
Além disso, percebe-se que certos
preconceitos estão enraizados no pensamento dos brasileiros há muito
tempo. Desde as grandes navegações, por exemplo, que os portugueses
chamavam alguns povos africanos de bruxos. Com a vinda dos escravos ao
Brasil, a intolerância só aumentou e eles foram proibidos de praticarem
suas religiões, tendo que se submeter ao cristianismo imposto pelos
colonos. É por isso que as práticas das religiões afro-brasileiras são
vistas como “bruxaria” e “macumba” e seus fiéis são os que mais
denunciam atos de discriminação (75 denúncias entre 2011 e 2014).
Portanto, é possível dizer que, mesmo
existindo o artigo 208 do código penal, que pune os crimes de
intolerância religiosa, ela ainda é muito presente. Para combatê-la, é
preciso acabar com os estereótipos, ensinando desde cedo a respeitar
todas as religiões. Então, o governo federal deve deixar obrigatória
para todos os colégios (públicos e privados) a disciplina Ensino
Religioso durante o Ensino Fundamental. Outro caminho é o incentivo das
prefeituras para que a população conheça as religiões como elas
realmente são, e não a imagem criada pela mídia nem aquela herdada desde
a época colonial, promovendo visitas aos centros religiosos, palestras e
programas na televisão e no rádio.”
9 – João Vitor Vasconcelos Ponte, de 18 anos – Fortaleza (CE)
“O Brasil foi formado pela união de
diversas bases étnicas e culturais e, consequentemente, estão presentes
em também várias religiões. Entretanto, nem essa diversidade nem a
liberdade religiosa garantida pela Constituição Cidadã faz com que o
país seja respeitoso com as diferentes crenças. Fazendo uma analogia com
a filosofia kantiana, a intolerância existente pode ser vista como o
resultado de fatores inatos ao indivíduo com o que foi incorporado a
partir das experiências vividas.
Em primeiro lugar, é notória a
dificuldade que há no homem em aceitar o diferente, principalmente ao se
tratar de algo tão pessoal como a religião. Prova disso é a presença da
não aceitação das crenças alheias em diferentes regiões e momentos
históricos, como no Império Romano antigo, com as perseguições aos
cristãos, na Europa medieval, com as Cruzadas e no atual Oriente Médio,
com os conflitos envolvendo o Estado Islâmico. Também pode-se comprovar a
existência da intolerância religiosa pela frase popular “religião não
se discute”, que propõe ignorar a temática para evitar os conflitos
evidentes ao se tratar do assunto. Desse modo, nota-se que a
intolerância não se restringe a um grupo específico e é, de certa forma,
natural ao ser humano, o que, porém, não significa que não pode e deve
ser combatida.
Além da intolerância inata ao homem, há
fatores externos que intensificam o problema. No cenário brasileiro, o
processo colonizador e seus legados, que perduram até hoje, são os
principais agravantes desse preconceito. Desde a chegada dos europeus no
país, as religiões diferentes da oficial são discriminadas. Logo no
início da colonização, o processo de catequização dos nativos foi
incentivado, o que demonstra o desrespeito com as religiões indígenas,
e, décadas depois, com o início do tráfico negreiro, houve também
perseguição às religiões afro-brasileiras e a construção de uma imagem
negativa acerca delas. Toda essa mentalidade perpetuou-se no ideário
coletivo brasileiro e, apesar das ameaças legais, faz com que essas
religiões sejam as mais afetadas pela intolerância atualmente.
É necessário, pois, que se reverta a
mentalidade retrógrada e preconceituosa predominante no Brasil. Para
tal, o Estado deve veicular campanhas de conscientização, na TV e na
internet, que informem a população sobre a diversidade religiosa do país
e a necessidade de respeitá-las. Estas campanhas também podem, para
facilitar a detecção e o combate ao problema, divulgar contatos para
denúncia de casos de intolerância religiosa. Concomitantemente, é
fundamental o papel da escola de pregar a tolerância já que, segundo
Immanuel Kant, “o homem é aquilo que a educação faz dele”. Portanto, a
escola deve promover palestras sobre as diferenças crenças do país,
ministradas por especialistas nas áreas ou por membros dessas religiões,
a fim de quebrar estereótipos, preconceitos e tornar os jovens mais
tolerantes.”
10 – Marcela Sousa Araújo, 21 anos, Itabuna (Bahia)
“No meio do caminho tinha uma pedra
No limiar do século XXI, a intolerância
religiosa é um dos principais problemas que o Brasil foi convidado a
administrar, combater e resolver. Por um lado, o país é laico e defende a
liberdade ao culto e à crença religiosa. Por outros, as minorias que se
distanciam do convencional se afundam em abismos cada vez mais
profundos, cavados diariamente por opressores intolerantes.
O Brasil é um país de diversas faces,
etnias e crenças e defende em sua Constituição Federal o direito
irrestrito à liberdade religiosa. Nesse cenário, tomando como base a
legislação e acreditando na laicidade do Estado, as manifestações
religiosas e a dissseminação de ideologias fora do padrão não são bem
aceitas por fundamentalistas. Assim, o que deveria caracterizar os
diversos “Brasis” dentro da mesma nação é motivo de preocupação.
Paradoxalmente ao Estado laico, muitos
ainda confundem liberdade de expressão com crimes inafiançáveis. Segundo
dados do Instituto de Pesquisa da USP, a cada mês são registrados pelo
menos 10 denúncias de intolerância religiosa e destas 15% envolvem
violência física, sendo as principais vítimas fieis afro-brasileiros.
Partindo dessa verdade, o então direito assegurado pela Constituição e
reafirmado pela Secretaria dos Direitos Humanos é amputado e o abismo
entre oprimidos e opressores torna-se, portanto, maior.
Parafraseando o sociólogo Zygmun Bauman,
enquanto houver quem alimente a intolerância religiosa, haverá quem
defenda a discriminação. Tomando como norte a máxima do autor, para
combater a intolerância religiosa no Brasil são necessárias alternativas
concretas que tenham como protagonistas a tríade Estado, escola e
mídia. O Estado, por seu caráter socializante e abarcativo deverá
promover políticas públicas que visem garantir uma maior autonomia
religiosa e através dos 3 poderes deverá garantir, efetivamente, a
liberdade de culto e proteção; a escola, formadora de caráter, deverá
incluir matérias como religião em todos os anos da vida escolar; a
mídia, quarto poder, deverá veicular campanhas de diversidade religiosa e
respeito às diferenças. Somente assim, tirando as pedras do meio do
caminho, construir-se-á um Brasil mais tolerante.”
11 – Igor Mota Farinazzo Giovannetti, 18 anos, Minas Gerais
“A Constituição nacional prevê a
liberdade de credo e de expressão religiosa, sendo crimes de
intolerância considerados graves e de pena imprescritível. No entanto, é
comum ouvir piadas sobre “macumbeiros” e, em alguns casos, violência
física contra praticantes do candomblé. O combate dessas atitudes
pressupõe uma análise histórica e educacional.
Por razões diacrônicas, certas religiões
são estigmatizadas como “inferiores”. No Período Colonial brasileiro,
era nítida a preocupação dos jesuítas e da Coroa Portuguesa em
“cristianizar” os indígenas e, posteriormente, os negros africanos. Em
“Casa Grande e Senzala”, o sociólogo Gilberto Freyre defende que a
cultura foi formada nestes três pilares: nativo, colonizador e escravo.
De fato, a resistência dos índios e dos negros rendeu uma herança
imaterial híbrida, contudo, a tradição etnocentrista permanece. A
sociedade, muitas vezes, repete visões preconceituosas, pois ainda não
houve um efetivo pensamento crítico, uma conscientização que
contrariasse o senso comum.
O ensino formal também corrobora a
problemática. As escolas, por serem o espaço de formação cidadã do
indivíduo, deveriam estar abertas para amplas discussões e para promoção
de valores coletivos. Não é o que se vê, por exemplo, no privilégio da
religião cristã – ensaios teatrais natalinos, homenagem a santos e a
anjos – em detrimento das restantes. A grade curricular também não
explora de forma profunda as matrizes culturais afrobrasileiras (as mais
discriminadas), como a umbanda (uma fusão do cristianismo, do
espiritismo e dos orixás negros).
Tendo em vista a desconstrução da
herança etnocentrista, cabe à sociedade civil (desde estudiosos
ativistas a familiares) incentivar o pluralismo e a tolerância
religiosa, através de palestras e de núcleos culturais gratuitos em
praças públicas. Por outro lado, são necessárias ações do Estado na
defesa de festivais escolares afrobrasileiros e na reforma da grade
curricular de História e de Sociologia, por meio da formação de
comissões especiais na Câmara dos Deputados, com participação de
especialistas na área de Educação, objetivando a uma educação mais
aberta e democrática. Assim, será possível formar cidadãos que entendam,
que respeitem e que se orgulhem de sua cultura.”
12 – Thaís Fonseca Lopes de Oliveira, de 17 anos, Mato Grosso
“Se houver duas religiões, cortar-se-ão
os preços. Se houver trinta, viverão em paz. Na Idade Moderna, o
filósofo iluminista Voltaire foi um importante defensor da liberdade de
culto e da harmonia entre as diversas crenças. Já no Brasil do século
XXI existe um retrocesso: embora haja muita diversidade religiosa, ainda
há a necessidade de ser comemorar o Dia Nacional de Combate à
Intolerância Religiosa – a qual é um crime vergonhoso cuja persistência é
uma mácula.
Não há como negar que esse tipo de
intolerância é fruto da colonização, pois o encontro cultural entre
portugueses, os quais manifestavam o Catolicismo, e povos politeístas
foi devastador. Uma vez que os colonizadores impuseram sua fé para
submeter ameríndios e africanos ao seu poder ocorreu um processo de
aculturação, ou seja, perda ou modificação de suas culturas. Ademais,
somente após quase 391 anos de predominância católica, o Estado
tornou-se laico em 1891 devido à proclamação da República, no entanto o
governo não faz nada para realizar a inclusão social das etnias
oprimidas ou estimular o respeito mútuo entre os cidadãos. Por isso,
infelizmente, os atos de violência e opressão por motivos religiosos,
sobretudo contra adeptos das religiões de matriz africana, continuam
ocorrendo.
Portanto, medidas são necessárias para
combater efetivamente esse crime. O MEC deve criar um projeto de
conscientização para ser desenvolvido nas escolas, a qual promova
passeios turísticos aos templos de várias religiões, além de
apresentações artísticas e palestras a fim de ensinar a crianças e
adolescentes a importância de conhecer e respeitar a pluralidade das
crenças. Cabe ao Ministério da Cultura e à Secretaria dos Direitos
Humanos realizar campanhas combativas permanentes, as quais devem ser
divulgadas por meio da mídia. Outrossim, é fundamental que o Poder
Legislativo desenvolva o “Estatuto da Tolerância Religiosa”, para
esclarecer melhor os direitos e deveres dos cidadãos a respeito do tema.
Também, é preciso que os sacerdotes brasileiros de todas as religiões
unam-se com o objetivo de determinar a realização de palestras e
discussões nas igrejas para estimular o convívio harmônico e evitar
qualquer tipo de radicalismo.
Logo, a adoção dessas propostas
possibilitará que a data de 21 de janeiro deixe de ter mero caráter
simbólico, os casos de intolerância religiosa diminuam no país e nossa
chaga histórica seja curada.”
13 – Shopia Martinelli Rodrigues, 19 anos
“Superando antigos estigmas
O Darwinismo social, ideial surgido no
século XIX, calcava-se na ideia de que existem culturas superiores às
outras. O preconceito, então, passou a ter um viés científico, numa
tentativa de justificar a dominação de indivíduos menos favorecidos. No
entanto, mesmo sendo uma ideia antiga, ainda encontra respaldo em
diversas ações humanas, como os constantes casos de intolerância
religiosa no Brasil, cujos efeitos contribuem para a dissolução da
coletividade e prejudicam o desenvolvimento do ser.
Em primeiro plano, vale ressaltar que a
população brasileira apresenta muitos resquícios da época da
escravatura, a qual teve como sustentáculo o eurocentrismo, que recusava
os valores de povos considerados primitivos. A parte disso, a
identidade nacional formou-seignorando expressões culturais de índios e
negros, por exemplo, fator responsável por marginalizar determinados
indivíduos e perpetuar o ódio ao desconhecido. Desse modo, atos de
repressão e discriminação a religiões ferem a liberdade de repressão e
podem gerar um “círculo vicioso” de segregação social, nocivos à
sociedade democrática.
Outro fator importante reside no fato de
que as pessoas estão vivendo tempos de “modernidade líquida”, conceito
proposto pelo sociólogo Zygmunt Bauman, o qual evidencia o imediatismo
das relações sociais. Atualmente, pode-se notar que o fluxo de
informações ocorre em grande velocidade, fenômeno que muitas vezes
dificulta uma maior reflexão acerca dos dados recebidos, acostumando o
ser a apenas utilizar o conhecimento prévio. O indivíduo, então, quando
apresentado a outras ideologias, tem dificuldade em respeitá-alas, uma
vez que sua formação pessoal baseou-se somente em uma esfera de
vivência, o que pode comprometer o convívio social e o pensamento
crítico.
Fica evidente, portanto, que a
intolerância religiosa precisa ser combatida. Como forma de garantir
isso, cabe ao Ministério da Cultura, em parceria com grandes canais de
comunicação de concessão estatal, desenvolver campanhas publicitárias
que estimulem o respeito às diferentes vertentes religiosas, como forma
de garantir a coletividade do corpo social. Ademais, cabe ao Ministério
da Educação, em conjunto com prefeituras, para um amplo alcance, o
estabelecimento de aulas de sociologia, dentre outras, que permitam a
apresentação de diferentes religiões, a fim de contribuir para o
desenvolvimento pessoal e o o pensamento crítico. Assim, a sociedade
brasileira poderá garantir o exercício da cidadania todos os setores
sociais e, finalmente, ultrapassar antigos paradigmais.”